08 setembro, 2010

Aprendendo com os dogs


Ao final de cada dia, depois de trabalhar e fazer todas as minhas tarefas sento-me na cabeceira da minha cama e ligo o Wi-fi do notebook a procura de uma rede aberta aqui na região. Faço isso diariamente só pra checar se por um acaso alguém, distraído e sonolento não se esquece dos protocolos de segurança e libera, pelo amor de Deus, um tiquinho da sua conexão banda larga. Mas como isso nunca acontece meus textos são todos rascunhados num bloco de notas e, quando rola um tempo e uma paciência eu corro na Lan House pra postar e fazer tudo o que preciso na internet. Ô vida!

Hoje os dedos tamborilam meu teclado com mais leveza e sem me incomodar. Embora meio mal-feitas as unhas agora têm uma cor que eu gosto. Estou mesmo apreciando essa coisa de fazer as próprias unhas, mas não consigo variar muito nas cores dos esmaltes como as experts da internet que dão diquinhas e postam as novidades do mundo dos esmaltes. Sou uma pessoa que não ousa muito em termos de moda e tendências, devo admitir.

Mas nada disso tem a ver com o que eu gostaria de escrever. São mesmo algumas palavras e idéias ao acaso!!!

Eu tenho duas cachorras. A Belka e a Kalua. Uma poodle branca e uma schnauzer respectivamente. Ambas têm quatro anos com uma diferença de 30 dias uma da outra.

Desde que as tornei meus animais de estimação e me propus a cuidar e amar eu as vacino anualmente, como deve ser,  e dou a elas uma das melhores rações que há no mercado, o que lhes garante boa saúde, dentes fortes, pelos sedosos, energia e força nas patas. Isso e mais algumas qualidades que uma alimentação balanceada proporciona, porém há algumas características que são bem particulares, que não estão ligadas aos cuidados e sim à personalidade de cada uma.
A Kalua é agitada. Meio – ou totalmente – estressada. É muito suscetível a mudanças e percebe cada uma das nossas emoções. Era ela quem vinha lamber meu rosto quando as lágrimas surgiam e foi ela também quem ficou doente quando passamos por várias mudanças, como se o bichinho somatizasse tudo aquilo em doença de pele.

A Belka é brincalhona. Uma moleca sem vergonha que não se incomoda em checar se eu estou dormindo ou acordada quando vem brincar embaixo das minhas cobertas. Ela é meio blasé. Não importa o quanto você a chame: se ela não está a fim naquele momento, simplesmente te ignora, mas quando vem logo te dá a barriguinha para ser acariciada. 

Embora eu as alimente só com ração ambas não resistem às guloseimas caninas e teimam em querer comer a minha comida, que não é sequer balanceada pra mim, imagina pras cachorras!!! E é este o ponto onde quero mostrar que o animal é mesmo a cara do dono ou vice e versa.

Quando me sento para comer no sofá ou sobre a mesa a Belka vem, se estica sobre uma das minhas pernas e passa todo o tempo da minha refeição dando toquinhos com as patas dianteiras e grunhindo num gesto de súplica por um pedaço de qualquer coisa que seja que tenha no meu prato. Mesmo que eu diga “não” e a afaste para ficar com as quatro patas no chão ela é insistente, obstinada e continua a lutar pelo que quer, até finalmente eu me cansar e dar a ela um tiquinho ou migalha de qualquer coisa.

Percebendo esta movimentação chega a Kalua, saída de seu pequeno reino particular – a almofada - de onde fitava toda aquela “luta” da Belka com atenção, porém sem mover um músculo. Ela se aproxima, senta-se ao meu lado e só precisa esticar o focinho na minha direção para ganhar o equivalente ao que foi dado à poodle, porque nunca dou nada a uma sem dar à outra.

A verdade é que, se nenhuma delas me pedisse comida, nenhuma delas ganharia nada, porém a Kalua já aprendeu que ela só precisa esperar respingar nela os frutos do esforço da “irmã”.

É claro que eu já havia observado isso na dinâmica das minhas filhas peludas, mas há algum tempo passei a comparar isso com a minha vida e percebi o quanto isso dizfala sobre o que eu sou.

Fiquei tanto tempo acomodada a um relacionamento e pensando em tudo como NOSSO que acabei deixando de lado o que EU queria.  Não acho que desisti dos meus sonhos, apenas não cultivei novos objetivos que dissessem respeito somente a mim. Deixei de pensar o que EU, somente EU gostaria de fazer no futuro, de ter planos ambiciosos enquanto profissional ou de ter sequer pequenos planos. Só fui levando e deixando que a vida respingasse pequenas migalhas em mim.

Não lutei por nada nos últimos anos. Se a vida me dizia “não” eu voltava para o meu lugar de segurança pensando sempre que “não era para ser” sem questionar os motivos ou o quanto eu não me esforcei para que o plano inicial realmente acontecesse. É muito mais fácil aceitar a derrota que correr contra o vento até conquistar o objetivo.

Em algumas circunstâncias o fracasso vem, é fato. E ele faz parte de qualquer trajetória, mas se entregar a ele sem questionar os motivos do “não” da vida é sinal de fraqueza. Talvez o não seja apenas uma etapa para se chegar ao SIM, por isso não posso desistir tão facilmente.

Foi à fraqueza a quem eu me entreguei quando abri mão de mim e dos meus valores durante tanto tempo, pensando que não valia a pena lutar por eles. Fui um pouco Kalua, só esticando o focinho para receber as graças que me eram dadas, mas sem lutar por elas ou por outras graças às quais eu desejava alcançar. Fui preguiçosa, eu sei, e não me orgulho disso em nenhum momento.

Observei isso já há algum tempo, mas só agora pude elaborar uma idéia para sair desse ciclo de conformismo.

Não quer dizer que agora, neste exato momento eu saiba EXATAMENTE o que fazer. Não sou dessas pessoas que acorda uma manhã e muda tudo na vida. Embora haja certa ansiedade, sou movida dia-a-dia, em doses homeopáticas. A mudança ver surgindo aos poucos, com uma idéia aqui outra acolá e aí um dia eu vejo que mudei completamente assim, quase naturalmente.

Cada um tem um tempo para as coisas acontecerem e o fato da vida ter me atropelado ultimamente fez com que eu sentisse a necessidade de rever esse meu “tempo”. Talvez ele seja muito lento para mim, talvez eu crie uma ansiedade justamente porque não faço as coisas caminharem no mesmo tempo em que minha mente e meu coração precisam. É como se as coisas ficassem desconexas às vezes. Como se eu quisesse uma coisa, meu coração outra coisa e eu desse rumo à minha vida numa terceira direção, num ritmo lento demais para tudo o que está acontecendo ao redor.

Affe! Até eu fiquei confusa agora. Mas é fato que talvez eu precise aprender a acelerar os processos de mudança de qualquer natureza da minha existência, inclusive o de criar e perseguir meus objetivos com mais afinco, com perseverança e força, bem como minha doguinha me ensina. Porém jamais sem perder a fofura! hehehe

Ao final de seu livro “Comer Rezar Amar”, o qual eu acabei de ouvir, a autora Elizabeth Gilbert, depois de sua jornada de um ano por três países descobrindo o prazer de comer, de aprender um novo idioma, encontrando-se espiritualmente e achando um novo amor afirma que agora, depois de tudo isso está “liberta de toda a farsa de fingir ser qualquer outra pessoa senão ela mesma” e entre outros trechos que destaquei do livro este foi o que mais me identifiquei.

Acho que agora, e só agora, depois de tanto tempo é que posso dar asas a mim mesma sendo apenas o que eu quero e sou, sem me preocupar se vou ou não agradar ou ser eficiente. Começar do zero uma relação comigo mesma é, acima de tudo, uma oportunidade de crescimento e auto-descoberta a qual eu não preciso fazer viajando a países distantes nem seguindo as previsões de um guru. É algo que eu posso fazer aqui mesmo, sentada em minha cabeceira, de dentro pra fora... dia após dia.

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